Pular para o conteúdo principal

Uma reflexão sobre a vida e a morte

Escatologia no nosso tempo

O homem é essencialmente uma criatura cuja existência tem sido concluída sem pausas e adaptada para a vida terrena, e que dá uma impressão de falência, futilidade em toda a sua existência. Na medida em que este é o início ou no final de cada homem como ser natural, homens que são produzidos pela evolução das espécies e voltam para a vida da natureza, em que, por conseguinte, procriação e morte são fenômenos inerentes à natureza, parece ser feito para reduzir-se até mesmo como um ser espiritual a um fenômeno natural, e esta redução é oferecida na sua maioria como a sabedoria purificadora da humanidade. A pessoa que abusou da vida permite-se agora, ver a felicidade eterna como um fruto proibido, ou talvez mais tarde em outro momento, buscar a salvação e felicidade eterna; essa busca não pode ser ignorada, mesmo quando os homens alegam ter chegado ao seu fim por ter vivido neste mundo de maneira imoral e imperfeita.

O espírito deve ser fortemente testado e não deve ser visto como aprisionado na terra, como nos leva a crer algumas correntes filosóficas, uma falha da natureza, mas, deve ser confrontado com a dura realidade da vida a fim de buscar um sentido de viver que seja mais cheio de significado e esperança. Da mesma forma que uma prorrogação temporária de existência não ajuda, nem é temporariamente o pensamento pelo qual os seres humanos têm a capacidade de melhorar ou recuperar o tempo perdido, e se aproximar acintosamente do espírito absoluto do mundo ou da natureza. Perante esta idéia aceita por gerações, mesmo nos tempos modernos, é definitivamente a pergunta capital: será que a idéia de um destino "após a morte do homem» pode ser talvez mais do que uma idéia? mesmo conceitualmente essa pergunta contém uma contradição em si mesma, em sua formulação afigura-se presumir que a morte é entendida como uma espécie de ocorrência acidental, mas antes e depois deixa intacta a identidade do sujeito humano, como se fosse um infortúnio grave, mas não exatamente uma morte sem sentido.

Face a este questionamento temos que simplesmente o homem com a morte já não é este homem definido por uma existência temporal dentro do limite temporal do nascimento e da morte, porque o corpo não é percebido mais como um documento, mesmo que tenham concluído o mais idealista dos idealistas. Caso contrário, a solução é procurada antes de se ter levantado a questão e ter compreendido a sua profundidade. No pensar filosófico, estóico, platônico, a morte teria possuído uma única potência de condenação.

A Escatologia cristã assumiu a forma platônica aonde o homem aparece na sua essência reduzida para colocar uma alma vinda de Deus, com isso se supriu uma necessidade de se ter uma alma que o levasse ao seu primeiro principio que era espiritual. Dificilmente pode negar que expressões bíblicas de estrangeiros na terra, e os cidadãos do céu, têm sido interpretados nesse sentido pelos povos, em virtude dos principais pensadores entre eles, Agostinho e Gregório Magno, Gregório de Nyssa e Gregory Nazianceno isso sem falar de Orígenes e Dionísio, sob o peso da corporealidade, utilizado para lamentar a plena Activa Vita, como se a alma sofresse violência sobre o corpo e como se ele pertencesse à nobreza celeste. Se, além disso, acrescenta que o corpo humano foi formado diretamente por Deus, de acordo com a declaração da Bíblia e, portanto, não parecem vir da natureza e de seus processos e suas conseqüências que são difíceis de se fazer acreditar em uma ligação última entre o homem e a natureza, apesar de todos os esforços intelectuais mais ferrenhos. Assim, a ressurreição do corpo continua a ser no pensamento platonizante uma espécie de acessório, e não um problema.

O homem esta sempre sendo confrontado com a doutrina definida pela Igreja de que cada alma é julgada imediatamente após a morte e que, imediatamente depois, ou após o período necessário de depuração, ela vem para a visão de Deus. Só Deus é o fim último do homem, Deus é para o homem, a verdade e sua lei, e sua salvação eterna. Tudo tem de ser trazido para o mistério da base analogia entis, a dependência da criatura de Deus e em Deus, só Deus prevê que, uma vez que ele é o absoluto, e o que é exterior é relativo, no fundo pode ter a certeza de seu Deus e o assumir. Descanso eterno esta na não dependência dos recursos naturais e essenciais dos seres finitos, desta forma confiar em si afasta o homem da proximidade com Deus e o distância do criador e salvador. Esta relação, que não pode ser adequadamente descrita, vai mais além da imanência e transcendência, portanto, a criatura, para compreender a si próprio, sabe de uma só vez estas duas coisas: que Deus é seu fim último, e que ele “o homem” não é Deus.

O acesso para a vida eterna está aberto por Deus através de Cristo, o homem deve interpretar à luz de Cristo, a criação, e deve esquecer seus significados provisórios. Certamente Cristo é um homem, como poderia para ele não ter nenhum significado o ser humano! E o homem é feito para “salvar” o homem e, através dele, todo o cosmos. Cristo é a chave que abre todas as portas para a salvação eterna. Cristo é o homem que, como nenhum outro, é totalmente natureza, justamente porque ela é absolutamente transcendente e está em Deus.

A ressurreição

A ressurreição da carne é o único resgate possível da existência humana, o homem perfeito é aquele que vive na busca da plenitude de Deus, que não é um fenômeno da natureza ou uma existência temporária. O Senhor da vida apareceu sobre a clareza da manhã de Páscoa e esse é um testemunho de fé em Deus a plena luz da história da humanidade.

Conclusão O que podemos entender sobre a temporalidade do homem e sua vida futura, após a passagem por esta vida terrena com uma esperança na ressurreição? Ao meu ver, podemos entender de maneira clara que, a vinculação da pessoa de Jesus Cristo, em sua temporalidade cristológica dada pelo pai, com a temporalidade da história humana e contrariando as idéias abstratas, mostra-nos o mesmo como o Verbo encarnado, em seu aspecto concreto, material, humano, que é, ao mesmo tempo, extraordinário e norma dessa história, dando cumprimento não somente da história passada, como também da que está por vir.

É à entrada da eternidade na temporalidade humana o que que da ao homem o sentido de sua vida. Perante as dificuldades apresentadas pela reflexão filosófica, entre os dois pólos: da faticidade e historicidade nas coisas e no mundo, e das essências universais, o autor apresenta Cristo como o irrepetível absoluto, o milagre não aceito no pensamento filosófico: a união entitativa de Deus e do homem em “um sujeito... irrepetível absolutamente, porque sua personalidade humana, sem ser quebrantada nem violentada, seria assumida na pessoa divina que nela se encarnava e se manifestava”. É a irrepetibilidade do Redentor, que participa da irrepetibilidade absoluta de Deus.

Em Cristo não existe contradição entre a forma de existência temporal e existência eterna, ou uma oposição de sua natureza humana com sua natureza divina. O tempo de Jesus significa que o mesmo não repele nem lança para o lado a vontade do Pai. A sua hora é a hora do Pai, uma hora “que vem, que está aí enquanto vem e, com isso determina tudo o que ocorre antes dela e nela, mas que, como determinadora, só chega em seu momento e, de nenhum modo pode ser chamada prematuramente”. A hora de Cristo é intocável e o conceito que tem de sua hora, é o Pai que lhe revela. O autor faz um paralelo entre o tempo de Cristo e o tempo humano. Para Cristo, ter tempo significa ter tempo para Deus e o tempo que Deus tem para o mundo, o tem no Filho. “Nele tem tempo para todos os homens e criaturas. Com ele há um eterno hoje. Esse abrir-se de Deus através do tempo é o mesmo que a graça; a acessibilidade a ele concedida por ele mesmo”. Refere-se ao tempo real, em que o homem encontra Deus, recebendo dele suas vontade, e ao tempo irreal, o tempo perdido e decrépito, tempo como contradição da vontade de Deus. Esse último é o tempo do pecado e dos pecadores, tempo em que não se pode encontrar Deus. Nesse sentido, o tempo se converte em uma penalidade para o homem.

Cabe aqui fazer um paradoxo com essa afirmativa do autor: “A suprema prova do amor do Pai ao mundo é que ante a Cruz de seu Filho parece não ter já tempo para ele (Jo 3,16). O tempo de sofrimento de Cristo na cruz não pode ser abreviado. É o preço a ser pago por nossos pecados. É necessário que Cristo sinta a ausência do Pai, pois ali, é a humanidade inteira que sente na pessoa de Cristo, essa ausência, devido aos pecados por nós cometidos. Essa solidão que Cristo sente, é o que nos redime. O próprio Deus parece abandonar o Filho na cruz, se esquecendo dele, em prol da humanidade. O tempo (a atenção) que deveria dar ao Filho na cruz é dada a nós, por puro amor. É o tempo necessário para a nossa redenção.

Portanto, a nossa redenção se dá pela obediência de Cristo até a morte na cruz. O tempo de Cristo é expressão de renúncia ao seu próprio existir e assim também nós devemos buscar a realização e finalização de nosso “tempo” em vista da redenção “alcançada por Cristo na cruz” para cada um de nós.

fonte: Von Urs Balthazar. Escatologia en nuestro tiempo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A técnica do DCD; Duvidar, Criticar, Determinar.

O Dr. Augusto Cury (psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor, com livros publicados em 40 países) apresenta em seu fabuloso livro Seja líder de si mesmo , uma técnica bastante positiva para superação dos conflitos existenciais. Ocorre que todos (uns mais outros menos) vivemos angústias e conflitos interiores, debatemo-nos em dúvidas, incertezas, indecisões e normalmente perdemo-nos em aparências ilusórias que alimentamos sob pretextos vários. Igualmente deixamo-nos dominar por pensamentos e posturas equivocadas de outras pessoas, esquecendo-nos de que todos guardamos o tesouro das possibilidades dentro de nós mesmos. Por outro lado, permitimo-nos escravizar por medos, neuroses, melindres, ressentimentos, mágoas e tudo o mais que o leitor já conhece do comportamento e das tendências humanas. Pois sugere o Dr. Cury que usamos a técnica do DCD, que significa D uvidar, C riticar, D eterminar. Sim, DUVIDAR das ideias dramáticas que muitas vezes alimentamos; DUVIDAR das circunstância

O Conceito de Família no Século XXI | REDAÇÃO PERFEITA

 

ERA VARGAS - Resumo Desenhado - apoio de pesquisa para o 9ºA