O
ENCANTO NOSSO DE CADA DIA! (Pe.Fabio)
Ainda bem que o tempo passa!
Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma
segunda feira eterna?
A beleza de cada dia só
existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado,
porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência. Dizem que
havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um
pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto que
não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa que o canto a
alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu armar uma armadilha para
o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na
gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu canto.
O grande problema é que a
gaiola o entristeceu, e triste, deixou de cantar. Foi então que a menina
descobriu que, o canto do pássaro só existia, porque ele era livre. O encanto
estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na
janela do quarto, a parcela de encanto que seria necessário, para que a menina
pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência...Aprisionado, ela o possuía,
mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!
Fico pensando que nem sempre
sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador,
e então o matamos de tristeza. Amar talvez seja isso: Ficar
ao lado, mas sem possuir. Viver também. Precisamos descobrir, que há
um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida em que nos
empenharmos em não reter a vida.
Viver é exercício de
desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique
só o necessário para continuarmos as novas descobertas.
Há uma beleza escondida nas
passagens... Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se
revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a
vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez seja
por isso que o verbo dividir nos ajude tanto no momento em que precisamos
entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à
medida em que os dividimos...
E enquanto dividimos, eles
passam, assim como tudo precisa passar. Não se prenda ao acontecimento
que agora parece ser definitivo. O tempo está passando... Uma redenção está
sendo nutrida nessa hora... Abra os olhos. Há encantos
escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe
para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute
o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você.
Ele só é encantado porque você não o possui. E nisto consiste a beleza
desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher
será o suficiente para esperar até amanhã, quando o pássaro encantado, quando
você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.
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