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NÃO EXISTE UM "FAVORITISMO" DIVINO

A suposta “eleição” de Deus A partir do reconhecimento da particularidade da revelação cristã como uma necessidade histórica, vamos ver seu significado em relação com a revelação nas outras religiões. E veremos que, mesmo em “teoria” se tenha aceitado que Deus está salvificamente presente em todos, ainda se abre espaço para o preconceito segundo o qual Ele só se revelou na tradição bíblica e ao povo de Israel.

Não existe um “favoritismo” divino A “eleição” de uns seria o abandono dos demais; na melhor das hipóteses, esperando que os eleitos, mais tarde, instruam os outros. O Deus que “quer que todos sejam salvos” busca, por todos os meios, fazer-se sentir o mais rápida e intensamente possível por todos os homens e mulheres desde a criação do mundo. Não descuida de ninguém, nem há nele “acepção de pessoas” (cf. Rm 2,11). Cada tradição o recebe à sua maneira e segundo a limitada medida de suas capacidades, em todas está presente e de todas se serve para ajudar os outros. É como se Deus, pela Luz do seu Espírito Santo, estivesse pressionando continuamente a consciência da humanidade para emergir nele, fazendo sentir sua presença (sua revelação). “O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar: o aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus.

Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador” (CIC 27).

É apartir desse encontro transformador com o Criador o homem deve procurar estender aos demais a nova descoberta, unindo neles a pressão interna de sempre e o oferecimento externo que lhes vem da história. Compreende-se assim que a “eleição” não pode ser interpretada fora desse contexto. O contexto significa o modo concreto com o qual Deus se relaciona com uma tradição determinada. Tal modo é dado não por uma escolha arbitrária, mas sim pelas condições reais que o tornam possível. E o que nele se consegue de novo e peculiar é destinado a todos; portanto, não se trata de “favoritismo”, pois sua destinação é intrinsecamente universal.

Um breve exemplo deve ajudar a compreender o texto acima: imagine um professor que está tentando passar aos seus alunos uma teoria de difícil abstração; dirige-se a todos com a mesma dedicação e amor para ser compreendido por todos; mas em meio as suas ações, vê nos olhos de um de seus alunos o brilho da compreensão, procurará apoiá-lo e impulsioná-lo para que avance para águas mais profundas, na medida de sua capacidade; todavia, não se descuidara de continuar a ensinar os outros alunos; há uma liberdade por parte do professor, pois o aluno nem se daria conta se o professor não tomasse a iniciativa de explicar-lhe a difícil teoria. Pode haver uma aparência de “eleição” no exemplo narrado acima, porque a compreensão do aluno e a sua relação com o professor é intensificada e aprofundada, mas, não é o que parece, o professor procurará fazer com que, com a ajuda desse aluno, a classe inteira chegue o mais rapidamente possível à idêntica compreensão. Tanto o ser do aluno quanto a sua própria capacidade de compreender são, nesse caso, dom do Revelador divino, que ama com idêntico amor a todos os demais. E por esse exemplo ou “modelo” podemos compreender melhor o mistério dessa relação particular tematizada como “eleição divina”, esse relacionamento deve começar a ser apagado de nossa consciência como relacionamento de favorecimento ilícito e injusto por parte de Deus.

A eleição de Israel corresponde perfeitamente a esse esquema do “professor”. Não se trata de que Deus “comece” sua manifestação com a história bíblica, mas se trata de que um grupo determinado que deve iniciar um tipo peculiar de experiência que se da por diversas circunstâncias, dentre elas a experiência da saída do Egito que mostra o estilo ético, pessoal e histórico em que foi se configurando sua relação com Deus; daí nasceu seu modo especifico de captar a comum “pressão” religiosa de Deus sobre a consciência da humanidade. Deus encontrou, de fato, a possibilidade de ir potencializando um caminho rumo à manifestação alcançada em Cristo sem deixar de agir e manifestar-se também nas outras religiões dando seu apoio com igual amor e dedicação dentro do possível em suas respectivas circunstancias históricas, religiosas e culturais. O que foi assim conquistado pelo povo de Israel pode ser oferecido às demais religiões. Aquilo que a tradição bíblica conquistou através de sua culminação em Cristo pode ser colocado agora a disposição de todos. Aquilo que foi alcançado na tradição do Primeiro Testamento é entregue agora a toda a humanidade no universalismo cristão.

Agora as outras religiões podem receber aquilo que por si só não alcançaram, a Vida em Jesus Cristo. A “eleição divina” do ponto de vista histórico, em principio escandalosa, está longe de significar um favoritismo arbitrário. E a missão evangelizadora e testemunhal de todos os cristãos é o único recurso possível para universalizar a revelação de Deus, oferecendo a todos os povos aquilo que foi adquirido num ponto concreto. Constitui-se uma autêntica estratégia do amor para chegar quanto antes e da melhor forma possível, ao maior número de homens e mulheres. Prof. Cesar Alves

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